A exigência de espaço para a Cultura

 Reportagem do Grupo Exosfera com artistas de rua, incluindo o grupo Tecido na Paulista

Thalia Oliveira Ribeiro, integrante do Grupo Tecido na Paulista


   "Tem muita gente que passa pela Paulista e as vezes não conhece ou não está familiarizado com uma manifestação artística dessa maneira", diz Fernanda Nascimento, integrante do grupo Tecido na Paulista que utiliza a avenida para expor sua arte com um instrumento pouco visto fora dos circos e teatros. Essa equipe se formou a partir dos encontros para se exercitar com o tecido em uma tenda construída na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Por falta de dinheiro para treinar em espaços fechados, a liberdade de expor na Av. Paulista aos domingos, veio como uma ruptura da arte elitizada, levando isso para a rua, "nós achamos interessante, então estipulamos uma regra para o grupo treinar todos os domingos", conclui Fernanda.
   Como no trecho de “Os quereres”, música de Caetano Veloso “onde queres dinheiro, sou paixão” os nossos artistas dos ares demonstram algo que é pouco encontrado nos dias de hoje: a arte como sendo pública, popular e gratuita, transformando o espaço em que treina. Assim como “onde queres um lar, revolução”, o Tecido na Paulista traz ,com seu jeito leve, a questão de como a indústria e o mercado cultural cresceram visando lucro, mas principalmente o modo como isso é refletido na sociedade, sendo preciso romper tal concentração para uma cultura mais integrada à população.
   A intriga gerada pelo depoimento de artistas como o grupo Tecido na Paulista traz à tona o problema da falta de espaço para manifestações artísticas. Mesmo numa cidade tão grande como São Paulo, a dificuldade de se ter um local possibilitado e autorizado para treinos, mostra que até nas grandes metrópoles há essa falha na distribuição de estruturas para receber todos os tipos de cultura. "Apenas 13% dos brasileiros vão ao cinema alguma vez no ano; mais de 92% nunca foram a um museu ou exposição de arte e 78% nunca assistiram a um espetáculo de dança. Mais de 90% dos municípios brasileiros não possuem salas de cinema, teatro, museus ou espaços culturais multiuso e 73% dos livros estão concentrados nas mãos de apenas 16% da população" (fontes: UNESCO, IBGE, MINC, IPEA).
   A falta de interesse do ministério da cultura na resolução de problemas como o encontrado por muitos artistas, demonstra aqui uma das diversas ferramentas restritivas dos centros urbanos, que ao invés de acolher e compartilhar tais habilidades, apenas ignora e os faz sair de um espaço que por direito é seu. "A cidade é minha, a rua é minha, eu tenho que usar esses espaços porque eles são meus", diz Thalia Oliveira Ribeiro, a fundadora do grupo, comprovando dessa maneira a dificuldade existente em muitos de seus treinos aos domingos.
   Antigamente, cultura significava cultivar ao máximo as potencialidades de algo ou alguém, hoje cultura toma um novo significado surgindo como civilização, “a intenção de ocupar a cidade mostra possibilidades para as pessoas" continua Thalia, assim podendo analisar o desenvolvimento da sociedade como um todo. Enquanto temos um público de classe social mais alta que busca a arte e tem a visão dela como algo importante em suas vidas, por deterem recursos financeiros necessários para ter esse privilégio, na outra margem temos o público de classe social menos favorecida onde, por falta de renda, não têm acesso. Logo sem a cultura, praticamente perdemos o senso crítico e a capacidade de expandir a criatividade.
   A partir do momento em que o público que antes não tinha a arte e a cultura como algo rotineiro, passa a ter acesso a tal experiência, através das escolas, faculdades ou grupos sociais engajados, seu impacto se faz nítido. Com base em tais ferramentas de inserção, as pessoas passam por uma metamorfose em suas vidas, e com a superação desse grande obstáculo, que é a falta de infraestrutura e acesso, esse público consegue se expressar de uma maneira melhor, expondo seus pensamentos e opiniões, e adotando a empatia como sua base. 
   Por consequência, uma nova vida se transforma, seja por uma pequena ou grande manifestação artística. Assim como o tecido se move com o artista, cada movimento tem um impacto na vida do outro, e é desse impulso cultural que a sociedade necessita a sua disposição.


Reportagem elaborada por Jackelyne Santos
Escrita por Evelin Giovanelli, Gabryel Costa e Jackelyne Santos


Uma Imagem, uma reflexão - A liberdade do movimento que a arte proporciona

Artista Thalia Ribeiro, do Tecido na Paulista
Link da imagem
 A prova da beleza do corpo quando em liberdade

#Curiosidade #PesquisaFlash - O caminho do circo

Autor desconhecido - Imagem encontrada na plataforma do Pinterest

   O Circo é uma das modalidades de arte mais antigas da história, que com o tempo sofreu várias alterações e adaptações. Já foi usado até como denominação para o desinteresse do público em assuntos importantes de política (Política do Pão e Circo, onde o Império Romano desviava o foco dos problemas sociais com o entretenimento de sua população), mas hoje é usado como sinônimo de conhecimento e resistência, onde nessa era digital, quando grande parte dos jovens não tem o contato com as artes circenses, a presença do circo na sociedade luta firmemente para se manter presente no cotidiano das pessoas.
   O início do circo no brasil aconteceu com apresentações em praças públicas, com imigrantes europeus trazendo a sua cultura para a nossa terra. Hoje, com a grande burocratização e despreparo das cidades em receber suas artes circenses dentro das lonas, muitos artistas viram como solução a rua, e é na rua que o circo está se rejuvenescendo e sendo trabalhado para se sustentar vivo na sociedade e, consequentemente, contribuir para o cenário de política pública.
   A Arte circense tem um conteúdo rico, e que pode ser explorado de diferentes formas, possibilitando que o artista, tenha ele a idade que for, conheça a vastidão de movimento de seu corpo. Mas não só isso! Ela também pode desenvolver o psicológico e a interação social. Essa arte busca valorizar a expressão, tornando os movimentos circenses naturais, sem o medo do erro, permitindo que o artista se desenvolva sem a repreensão do erro e sem o sentimento de fracasso por não ter conseguido.
   A ideia do circo, portanto, é de inserir elementos da arte circense na vida das pessoas, principalmente na das crianças e dos jovens, podendo servir como um recurso pedagógico, como um conteúdo, pois suas características são de grande importância para o desenvolvimento físico e psicológico.

Pesquisado e escrito por Gabriel Lupiani

Registro de domingo com o Tecido na Paulista: Gratuitamente cor, arte e cultura

Artistas Bruno Moretiene e Fernanda Nascimento,
do Tecido na Paulista.

   Domingo, 5 de maio de 2019. Um dia de descanso e sossego, em que muitos aproveitam para ficar em casa assistindo televisão ou passam o tempo ensolarado do fim de semana para passear. E é nesse contexto que pessoas movidas pela vontade de praticar a arte em espaços públicos, chegam e fazem a diferença.
   Após uma caminhada pela avenida Paulista de domingo, sendo palco de diversas manifestações políticas, sociais e artísticas, encontramos sob o vão de um túnel, dois grupos que praticam nos ares suas formas de expressão e suas habilidades. Esses são o Tecido na Paulista e o Slackline, que se expõem ao perigo de treinar e se apresentar sobre o asfalto, retratando, num mesmo espaço, seus objetivos: o primeiro de se exercitar e mostrar algo lúdico e o segundo de se provar usando o equilíbrio.
   Mesmo sendo grupos distintos, ambos enfrentam a necessidade da segurança para não acontecer nenhum acidente. Assim, um colabora com o outro para a montagem de seu equipamento, mostrando que a convivência é possível até quando se utiliza do mesmo local e do mesmo público. Logo, uma cultura pouco vista fora do picadeiro, se apresenta aqui como um ato de companheirismo entre os membros do Tecido na Paulista e o Slackline, que desempenham confiança em suas acrobacias. 
   Ao fim da tarde, quase na hora da reabertura da avenida, o “pessoal do Tecido” se encontrava como o último grupo de pessoas a estar presente naquele túnel, e depois de desmontar tudo e enrolar o tecido, um silencio começou a imperar naquele lugar. O vazio do momento em que todos da equipe iam embora se contrastou perfeitamente com a falta que a cultura faz na vida de milhões de pessoas.
   O vento que antes levantava o tecido e o deixava mais belo, começou apenas a esperar a chegada dos carros para ser ultrapassado novamente. O céu nesse dia estava lindo, no entanto, quando todos se foram, ele chorou, pois logo era preciso voltar a rotina de mais uma longa semana, até que no próximo domingo, na mesma avenida, venha haver de novo e gratuitamente cor, arte e cultura.

Registro por Jackelyne Santos.

Tecido na Paulista: um grupo que manifesta sua paixão


"Sabíamos o que tínhamos que buscar e compreendíamos o que estávamos buscando. Não dispúnhamos de um leque de opções, focamos em conhecer nosso primeiro selecionado e o abraçamos após termos sido apresentados aos ideais de um grupo que nos deu vontade de assumi-lo." - Gabryel Costa

Artista Josias Fabian, do Tecido na Paulista
   De início eles pareciam apenas uma união de artistas que se apresentavam ao ar livre, se pendurando em tecidos de liganete na Avenida Paulista, mas quando realizamos nossos primeiros contatos através de mensagens, ligações e visitas, pudemos confirmar que não demoraríamos muito em concordar que o grupo "Tecido na Paulista" seria o "alvo" de nosso trabalho.
   Cada artista que subia no tecido não estava apenas a se pendurar sobre um material de liganete, estava também proclamando seu momento de liberdade e manifestando uma paixão. Cada diferente número circense não era só uma tarefa de composição para formar uma imagem com o corpo e o tecido, mas também um objetivo de transformar o material sobre o ar em parte de seu corpo. E toda a flexibilidade não servia apenas como apresentação de elasticidade, mas como prova da beleza do corpo quando em liberdade, ignorando limitações.
   Se existia tanto amor por praticar uma arte, existiria igualmente a vontade de crescer, e cada integrante do Tecido na Paulista demonstrou uma força dentro de si de expandir não a si na arte, mas a arte que havia neles. Apresentando suas histórias e os esforços para se encontrarem para treinar em público, levantando a bandeira da arte de rua, veio também a exposição de todos os obstáculos que os fizeram chegar até ali.
   A iniciativa de procurarem um local ao ar livre para treinar e mostrar essa arte ao público, nos fez perceber o quanto muitas artes estão esquecidas ou mal distribuídas, de forma a privilegiar um número limitado de pessoas. Muitos desse grupo têm apenas a Avenida Paulista para treinar, ou algumas praças, quando possível. As academias de circo, escolas circenses ou projetos dessas artes, são muito caros ou difíceis de encontrar, e é por esse motivo que não é comum as pessoas conhecerem as Artes do Circo.
   Com uma iniciativa como a do Tecido na Paulista, pudemos ver e continuaremos vendo muita mais gente, de todas as idades, gêneros e classes sociais, reconhecendo, explorando e, quem sabe, praticando um pouco do que o grupo Tecido na Paulista faz.

Gabryel Costa, líder do grupo Exosfera